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O "Novo Ensino Médio" é bom para quem?

O modelo de Ensino Médio que entrou em vigor nas escolas brasileiras a partir de 2022 é muito controverso. Apesar de ter seus defensores, ele enfrenta muitas críticas de alunos, professores e de diversos setores da sociedade.


A medida provisória do "Novo Ensino Médio" (NEM) foi criada em 2016 e sancionada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 2017 ( Lei 13.415). A ideia do "Novo Ensino Médio" tem como base aumentar a carga horária dos estudantes (com mais escolas de tempo integral) e incluir os itinerários formativos, sendo um deles a formação técnica e profissional.


Na teoria, tudo isso é muito bom, um lindo mar de rosas com unicórnios saltitantes. Mas, na triste realidade, especificamente nas realidades da periferia, é uma história

completamente diferente.


Nesse formato, as disciplinas estão divididas em linguagens, matemática, ciências da

natureza e ciências humanas. Essas são as famosas matérias da base, ocupando 60% da carga horária. E o restante? Bom, os 40% restantes vão para as denominadas matérias do itinerário informativo (no caso da nossa escola, as matérias do técnico), além de Projeto de Vida e Eletiva. "Tá, e o que isso afeta a minha vida?" Ok, então vamos analisar alguns pontos.


Embora pareça que 60% da carga horária para as matérias da base seja suficiente, na verdade não é! Ao longo dos três anos do Ensino Médio vai acontecendo um rodízio com as disciplinas. Em determinada série tem uma matéria, e nas seguintes não. Exemplo simples: a amada Educação Física. Como vocês sabem, essa disciplina só é ofertada durante o primeiro ano. E não só ela, mas também Filosofia, Sociologia, Artes e Língua Inglesa. E nisso temos uma contradição gigante: como esperar que os professores trabalhem os conteúdos de suas disciplinas, que deveriam ser passados em um período de três anos, em apenas 1? Isso cria uma defasagem enorme nos estudantes.


Consequente, caso o aluno queira prestar vestibular para ingressar em uma

universidade, ele terá que se virar por fora. Se ele for fazer o ENEM apenas com o conteúdo esvaziado do "Novo Ensino Médio", ele provavelmente não conseguirá responder nem metade das questões em cada disciplina. "Ah, mas aí é só pagar um cursinho e estudar em casa!" Entretanto, é importante lembrar que a maioria dos alunos de escola pública não tem condições financeiras para pagar um cursinho. Muitos outros estudantes têm que trabalhar para ajudar em casa, e depois de 7 horas cansativas de estudo ainda têm que dar conta dos trabalhos e atividades escolares. E não, eles não conseguem trabalhar enquanto dormem, pois eles precisam acordar cinco horas da manhã no outro dia para fazer tudo de novo.


Outra consequência desse novo modelo de ensino, que observamos em nossa escola, é um aumento da evasão escolar. O desânimo, cansaço físico e mental, ter que escolher entre ir para a escola em período integral ou trabalhar, tudo isso tem provocado a desistência de alguns alunos.


Outro detalhe que na teoria é uma maravilha tem relação com os itinerários informativos. Dizem que ele dá oportunidade aos jovens de escolher uma área de aprofundamento, dando uma base maior para trilhar o caminho profissional. Só que, boa parte das escolas públicas não têm a capacidade para oferecer uma grade com variedade itinerários. Cabe aos estudantes optar por itinerários que são ofertados nas unidades de ensino próximas de sua residência. Vale salientar que o aluno decide a área que quer seguir quando ingressa no ensino médio, existindo entraves para a mudança do aprofundamento escolhido.


Isso é horrível, porque o aluno que está cursando uma área com o foco em exatas, e cria interesse em ciências humanas, ele enfrenta dificuldades para mudar de itinerário. Muitos jovens acabam ficando em uma área que não tem interesse, desmotivados e com diversas incertezas em relação as suas carreiras.


Essa história do "Novo Ensino Médio" é muito linda na ficção, mas na prática dá uma educação medíocre, sem profundidade, forma estudantes sem pensamento crítico e que consequentemente virarão mão de obra barata para o mercado de trabalho. E os que mais saem prejudicados (como sempre) somos nós, estudantes de classe baixa, que veem no estudo a única maneira de conseguir ter um futuro digno. Mas querem nos tirar essa oportunidade. Também querem nos fazer acreditar que todos têm as mesmas oportunidades e que tudo depende apenas do nosso esforço e dedicação para conseguir vencer na vida. Mas não é bem assim.


Não podemos e não devemos concordar com isso, não devemos concordar que apenas jovens de elite possam ter uma educação adequada, não devemos concordar que eles decidam nossa carreira, não devemos achar normal tirarem nosso direito de estudar!


(Por Ana Beatriz Souza Graça).



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